domingo, 2 de maio de 2010

O chamado

O chamado que ouvi não tinha voz ou som.
Era um chamado inconsequente e irado.
Era o grunhir de rato que emitia, queimado,
A sensação de que nada daquilo vivido era bom.

Sentei à pedra e esperei: "Velha senhora",
Alguém me disse, "vá embora antes que
Seja tarde, tão tarde que não implora
A alma para ficar à beira de uma estandarte".

Num clima denso, nebuloso e maledicente,
Caminhei rumo ao lago, pronta a descer
Aos meus infortúnios de idosa descrente
De um mundo rodeado por doentes roer

Almas. Almas. As mais puras almas
De um planeta rico em metáforas e pouca paz.
De um ambiente nu aos espelho das palmas
Que os vencedores debocham ao gosto voraz.

Mergulho. Vou ao fundo e lá me vejo:
"Mundo, mundo, vasto mundo", diria o poeta.
"Velho mundo, outro mundo", digo e festejo,
"Nada mais tens do que ódio. Clara seleta!"

E vou ao fundo, bem distante de tudo.
Encontro aquilo que me torna finada:
"Ah, outro mundo, bem como no estudo,
Hás de me levar a outra cavalgada."

Adiante, a luz forte e intensa, de brilho único:
Radiante espaço em qualquer gentileza perdida:
Que me olhas, se em nada cri ou fora aludida?
Só me resta silenciar e crer em algo púnico.

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