segunda-feira, 10 de maio de 2010

Fogo

Queima no horizonte,
O absoluto desejo de viver.
Em brasas, aos montes,
A inconstância do sobreviver.

Quem disse que na calma
Apesar dos inúmeros soluços
Não avança uma simples alma
Para chegar ao fatigado consenso?

Através do fogo, da brasa,
Avança a alma pura e gentil.
Nem no meio de um milhão de rosas
Teremos uma força tão senil.

Incluiria ao poder da alma
Todo o desejo nela representado.
Igualmente à forma, espalma
A bela e lúcida morte - caso pensado.

Livre de qualquer objeção,
De qualquer fuga ou noção,
O fogo arderá como a tumba
Aos vivos, visto que retumba

Todo o desejo sofrido e real
Dos corpos que sãos sofrem
Em busca de uma arma letal
Que renasça os que lá traem.

Abrigaremos, em brasa e cinzas,
Todo o lânguido sentido, maculado
Pela dor e pelo horror às stravaganzas
Que a alma faz de pérfido cuidado.

No horizonte, então, não mais acenderão
Os pavores da multidão, grandes e vistosos:
Sobrarão as almas - ao longe renascerão
Os únicos seres que nos faltam: homens talentosos.

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