Vês, Narciso, que imagem pura e clara
Resplandece da cristalina água?
Sentes o furor da paixão que ficara
Preso à fluidez que o tempo enxágua?
Há tempos não enxergas mais que a própria imagem.
Não sabes o quão belo é o que há por dentro do corpo.
Insanas ideias paradisíacas consigo, culto e vertigem
Num mundo cruel de espaço, de curvas, mal torpo.
O que há dentro de nós, Narciso, senão os sentidos?
Que mais há que aquilo não visível aos teus olhos?
Talvez num curto espaço descubras, benditos
Que a natureza humana é corpo e se resume a pó.
Que um dia terás no corpo o objeto falível, fraco,
E que te restará apenas aquilo que lhe é opaco.
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