segunda-feira, 26 de abril de 2010

Lúcifer e a súdita

Sorte a tua, humilde senhor,
Que pode me ver nessa situação.

Quem sois? O que desejais?
Há um fundo de verdade em toda a fala?

Sorte a tua, humilde senhor,
Que pode falar comigo neste estado.

Quem és? O que queres comigo?
Afinal, uma voz é esse contato imediato.

"Eu", diz a voz, "sonho contigo
A cada noite e a cada dia,
pois te vejo, a pleno e à força
como num momento de prazer:
és a força e és a dor, passando
como um encanto de Lúcifer!"

Quem és? O que queres comigo?
És alguma voz a mais do que penso?

"Trevas", resmunga a voz, "não é apenas
o caminho do mal, velha senhora...
As noites são quentes e os dias também,
Os dias são mortos e as rosas são noites
A plenos vapores em redutos sem amém."

Quem és, embriagada voz? Quem és afinal?
Um tiro no escuro é a voz imortal...

"Repense, senhora antiga", novamente diz,
"Se queres afago, aqui não terás!
Se desejas o fogo, aqui encontrarás!
A alma que aqui pena já não é de raiz,
Se um pano fora quente, o outro já não é:

Um desejo indecente e o inferno aqui é."

Ah, voz infernal, não sei quem tu és!
As causas, as laias, as trovas perdi!
De anjo sem causa e caído sem pés,
As trevas e inglórias daí já senti!

"Bem sabes", finaliza a voz, "dos céus
Eu desci. Já fui, já sou, permaneço aqui.
Ah, com almas terríveis de mausoléus
Sem donos neste ambiente vivi.
Não importa quem morra ou in extremis
Está, posto que é vida num ambiente
Distante, longe do sabor de cassis:
Há, apenas o flagelo duradouro e reluzente."

Oh, voz que te afasta, prenda-se a mim!
Não importa, sem glória, espaços não tive.
Afinal, és o espaço que se refere ao fim
E não há nada que me prenda e ative.

Só quero o sabor do novo, do claro e do belo
Que Fausto fora o único a viver e a tê-lo...

- E a voz não mais retorna, apenas conduz.

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