sábado, 24 de abril de 2010

Silêncio

Silêncio!

Não escutas essa voz?
Não compreendes o que ela diz?

Silêncio! Silêncio!

O que há por aqui?
O que houve a ti?

Rebenta nas curvas um sentido grotesco,
Uma fibra, um som aleatório.
Que mais há por ti de dantesco?
Uma mensagem de algum pictório?

Silêncio!

Não vejo mais tua face.
Encontro por diversas curvas,
No corte de um enlace
A chave das mais turvas
Das noites.

Não vejo mais tua face
Em brilho e cristalina.
Apenas sonho com o enlace
De nossa áurea neblina
Às foices.

Silêncio! Uma vez mais!

Não escutas essa voz?
Quem a reconhece?

Silêncio, silêncio!

Enquanto devoro essas reminiscências,
Podes perceber quem és de verdade?
Ou, na incrível pausa da incredulidade,
Não chegas à conclusão de tais essências?

Ao declarar que o corpo jaz,
Que em minha alma tu ficas para trás,
Repouso meus olhos sobre os teus,
Busco igualar tua face aos sonhos meus.

Silencioso ambiente,
De um último colchete:
Dá-me força para continuar a ver
Tua pura alma sem ritmo de ser
Bela e constante.

Silencioso ambiente,
Em que dorme o corpo presente:
Dá-me lucidez para reviver
Um puro ar para transcender
Essa curva incessante.

Silêncio, agora.
Que mais há?

Nada, responderás.
 - No meio do caminho, haverá uma pedra!
"Poeta" - dirás!
Nunca rebaixaria à figura de quebra.

E, na noite plácida e serena,
Em que os sons já não se tornam sãos.
Veremos a alma em júbilo e plena,
Para quem esticaremos as mãos.

Ao tocá-la, de leve,
Perceberemos a sublime intensidade:
Por um lado, o prazer breve;
por outro, pura sensualidade.

E o silêncio, que reverbera esta situação,
Passará de mero confidente, amargo,
Às difíceis margens da intuição,
Oscilando entre o doce e o letargo.

Enquanto isso, só um som se instala
E se eterniza à fala:

- Silêncio! Silêncio!

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