Mais micro-contos do Facebook!
18)
"Abra a janela e deixa o sol entrar... Casca de canela, aroma de chá..." (Nacib Véio, de Bittencourt Project)
Ao levantar-se, já tarde para seu normal, ele mal conseguia abrir os
olhos: a noite havia sido quente, intensa, propícia para boas
lembranças. Era o primeiro dia do ano. A casa, no interior, no meio de
uma natureza ainda bela e sem descontos do tempo, estava embriagada de
pessoal: tios com dor de cabeça, primos
mais novos correndo pelo pátio, sobrinho com dor de barriga, mãe e avó
preparando o almoço, pai sentado na cadeira. Estranhou seu velho apenas
sentado, vista toda sua atividade durante o ano. Aproximou-se. Percebeu o
olhar perdido. "Estás bem, pai?", questionou. Nenhuma resposta. "Pai?" -
o progenitor se vira. "Acho que dormi", o senhor revela. "De olhos tão
abertos? Tens certeza?", "Sim, este cheiro de comida me faz viajar no
tempo" - e rememorava a época em que a sua avó caminhava por aquela casa
com um chá de maçã com canela, não apenas para adocicar sua vida, mas
para aromatizar o ambiente. "Ela sabia o que me fazia feliz", diz o pai.
"Então tuíta isso", responde o filho.
19)
Durante
a partida, o jogador tentava se concentrar. Pensava, no entanto, na mãe
hospitalizada. "Pega a bola, cara", gritou o companheiro. Surpreso,
corri em direção da linha lateral, intermediária ofensiva. Aproximo-me e
vejo na bola o rosto de minha mãe. "Não!", esbraveja o adversário. A
torcida vaia a entrada violenta do zagueiro. "Tudo bem, cara?", "Ei,
cara, fala com a gente!", "Chama a ambulância, juiz! Rápido!" - Eu não
via nada. Quando me dei por mim, estava ao lado de minha mãe. "Ué? Dormi
aqui esta noite?", perguntei a ela. "Não, querido", ela respondeu.
"Finalmente chegou a hora de nos encontrarmos."
20)
Era
certo que cada um deveria seguir um caminho diferente. Os dois amigos
passaram o dia comendo salgadinhos e chocolates. Em meio aos jogos de
videogame, o mais velho perguntou se havia algum que fosse de corrida. O
outro, meio consternado com a situação, com uma vontade louca de seguir
naquele jogou, questionou o motivo. "Preciso dar umas voltas de carro",
respondeu. "Tu só tens oito anos! Por que
dirigir?", interpelou o outro. O mais velho ficou quieto. Para que
dirigiria? Ele não poderia se acidentar, nunca mais ver o amigo?
Poderia, no entanto, apressar-se, correr, ser um Sonic motorizado. Ele
queria sentir o tempo passar logo.
"Sabe por que eu queria dirigir?", ele perguntou.
"Por quê?", retorquiu o mais novo.
"Pra que a vida passasse mais rápido e a gente pudesse se ver de novo."
21)
O
sequestro foi profissional. De capuz vermelho, apenas os olhos
expostos. A roupa colorida caracterizou o fato incomum. A moça estava
pálida, amedrontada. Ele e o parceiro riam adoidados. Ela não piscava,
observava o chão. "Quanto vamos pedir?", perguntou o outro. "Não sei.
Acho que uns 30 mil", respondeu o encapuzado. "Só isso?", ela pensou.
"Será que minha vida vale só isso?" - e começou a pensar
em tudo que fazia: festas, ficantes fajutos, bebedeiras extremas,
amizades em grande número e pouco sinceras; pai e mãe viajando,
desfrutando toda a grana que têm; irmão em casa, estudando para a prova
de residência médica. A ida pra boate do Centro, o convite macabro do
novo ficante. Ei-la ali. "Acho que 40 mil", disse o encapuzado
novamente. "Assim tu pagas a casa, eu pago o resto da reforma da minha.
Tu juntas uns trocos e abre aquele mercado, já que temos o ponto. Eu vou
fazer o maior rancho da minha vida pra mulher, ela vai se jogar em mim
de tanto amor". "É pra isso? Pra isso que eles querem a minha grana?",
ela pensou baixo. Virou-se pro lado. "Eu não valho mesmo por esse
sequestro."
22)
"Uma foto comigo, por favor!"
E o astro resolveu se aproximar da fã.
Ela, de cabelos desgrenhados de tal endoidecimento pelo show do garoto,
pede para a amiga segurar a máquina: "Tu cuida isso, pelo amor de
Deus!". A outra assentiu e a fã se aproximou do ídolo.
"Pra que essa
pose?", ele pergunta. "Por que eu quero ser só tua!", "Nada disso, pode
te colocar no teu lugar!". Ela, abismada, antes da foto,
solta-se da posição. "Como tu queres que eu fique?", "Melhor eu não
dizer. Vais que tu gostes da ideia", ele respondeu. Ela pensou. Olhou
pra amiga, volveu a ele. "Faço o que quiseres", ela ponderou. "Tu tens
certeza? Vai ficar chato pra ti", ele afirmou.
Ele poderia qualquer
coisa. Era o astro. Sentia que nenhum desejo seu seria negado. Olhou
para o corpo da menina e a quis nua. Uma adoração passageira, diversão
parasitária. Propôs: queria-a nua no camarim. Ela o olhou assustada.
Como se estivesse olhando por uma viseira, não se virou mais para o
lado: viu o camarim do seu ídolo e correu até lá. Ele, sorrindo aos
olhos estranhosos e apaixonados à volta, disse que apenas iria se
divertir um pouco.
A amiga, com câmera na mão, não a fotografou com
ele. Mas a fotografou entrando no camarim. Além daquele sorriso
ordinário do astro.
23)
É hora de deitar. Na rua, no entanto, a criança ainda contava os carros que passavam.
"Já é tarde, filho."
"Eu quero que tu tenhas um daqueles pai", disse o guri.
Apontou para um Maverick.
"É bonito. Por que aquele?"
"Parece com um dos meus hotwheels..."
"Tá bem, filho", disse em meio à risada, "agora é hora de ir dormir".
"Ei, espera, pai! E aquele?"
Apontou para um Fusca.
"É bem mais viável. Agora vamos..."
O guri foi conduzido pelo braço. Ainda olhava pra trás, pensando em
cada carro. Nas cores, nas formas, na velocidade. "E se papai fsse
piloto? Ele dirigiria num Fórmula 1?", "E se eu fosse piloto com ele?
Ele deixaria eu ganhar?".
Perguntas sem resposta. Mas um sonho nascia.
Já produziu tudo isso? Nem me dei conta da quantidade de micro-contos que li. Só quero dizer que é maravilhoso te ver escrevendo, porque teus textos são maravilhosos, meu mestre! Continua, ok? Terás sempre uma leitora esperando por mais e mais produções.
ResponderExcluirABANDONO É CRIME, HEIN?!
ResponderExcluirNão é porque tu escrevel mil micro-contos em um mês que tu pode deixar às traças teu blog! >.<' quero lerrrrrr!! dasijdao
bjoness