Quem é meu contato no Facebook vem acompanhando algumas pequenas histórias que publico por lá. Agora é hora de transcrevê-las para cá, antes que sumam do histórico daquela rede... hehehe
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1)
"Ei, veja você", disse o menino.
"O que há lá?", ela quis saber.
"É uma estrela". Apontou-a.
"Há várias estrelas lá, querido." - disse rindo.
"É... Mas aquela é tu pra mim..." - observando-a.
Ela o olha, desarmada. Pega-o pela cintura e o abraça. Sente que um brilho vindo do céu lhe faria diferença por toda a vida.
***
Na
festa, ele não sabia o que dizer. Dançando, ela não sabia como se
mexer. De repente, os olhares se chocaram: um brilho antes existente
recende um espaço de furor no coração. Furor rubro, ensandecido,
temivelmente apaixonado. Ele se levanta e vai ao seu encontro. Ela sai
da pista, acelera o passo. Encontram-se: o beijo é um mero símbolo de
tal sentimento. A noite finda e sua realização se concretiza. "Quem era
aquela estrela mesmo?", ela questiona. "Sempre foste tu", replica.
***
Após
alguns anos de casamento e uma série de brigas inconsequentes, a
separação aparece. Muita tristeza no olhar dela. Um peso inconsciente na
mente dele. É chegado o dia de assinarem os papéis. O cartória em sua
frieza habitual. As pessoas, em meio às tarefas, vivendo seu dia-a-dia.
Eles, ainda assim, rememorando seu cotidiano: café da manhã, trabalho,
almoço, trabalho, janta ou cinema ou teatro ou carinho ou briga ou tesão
ou qualquer atitude com noção. "A minha estrela ainda vive no céu", ele
disse. "E a minha está ao meu lado", ela respondeu.
***
No
dia em que agonizava, num leito recoberto de amor e toda uma vida
passada, ela sentou ao seu lado. "Chegou minha hora", ele disse. "Nunca
teremos hora", ela respondeu. Ele observa o sol, queimando o horizonte.
Ela observa seus olhos, brilhando como naquele dia, observando a
estrela. "Não partirás sem saber que sempre te amei", ela disse. "Eu
sei", ele responde, "mas agora é finalmente hora de meu recomeço." Ela
chora. "Vou te encontrar novamente, minha estrela".
2)
Numa
noite mágica, a Lua resolve brincar com o Sol. "És tu quem deve me
procurar agora", diz o Sol. "Ah, isso é fácil: és claro no meio da
escuridão!" - retrucou a Lua. "Sim", pensa o Sol, "difícil é passar
anos-luz fazendo com que outros se iluminem".
A Lua, percebendo a
angústia solar, reflete: "Se tens essa função, imagine o quanto
clarifica o que é apagado". "Da minha força brota a vida", ele diz. "Só brota vida porque tem terra para fazê-la nascer", findou ela.
O Sol, percebendo seu egoísmo, sorri: "Ilumino-te para que tu guies no
meio das trevas. És meu reflexo em meio a dor". "Eu sou aquela que
reflete o que é bom, mas que só irradia a quem busca o melhor. Por meio
de ti". Sorriem. "Agora podemos brincar?"
3)
Quando
o vulto passou novamente por suas costas, Chapeuzinho temeu pelo pior.
Pensava, no entanto, que não haveria mal na floresta, já que todos os
bichinhos eram encantados: os pássaros cantavam ao seu ouvido, as
borboletas embelezavam sua passagem, os coelhos lhe faziam cócegas
quando iam cheirar suas pernas, um esquilo ria de si no caminho. Que mal
haveria na floresta? "Mamãe é exagerada", pensou consigo. "Posso andar
sozinha! Sou uma menina grande", festejou.
Logo ao lado, novamente um arbusto se mexia.
4)
Já é hora de eu partir?
Já, foi o que disse minha mãe.
E se o mar for tenebroso, me assustar?
Nada pode contra ti, meu amor.
Estarei sozinho apenas.
Não enquanto tiveres este amuleto...
Minha mãe estendeu a mão. Não havia nada lá.
O que há aí?
Não vês?
Olhei fundo em sua palma. As marcas do tempo, já dispostas,
contrapunham-se às doces palavras. O veneno da idade já trazia
resquícios de perda à vista. Ainda assim, naquela palma seca e
detalhada, havia a forma de um berço.
É pra eu me deitar?
Não, ela respondeu sorrindo. É para tu lembrares que sempre terás para onde retornar..
5)
"How can you 'just be yourself', when you don't know who you are?" (Song Of Me, do Nightwish)
As ruas da cidade estão silenciosas. Poucas almas circulam pelo espaço
pueril de um local putrefado pelo tempo. Observa o lado e não vê
ninguém. Volve, vira-se ao outro - menos ainda. A sua frente luzes
parcas iluminam o caminho. Lampiões de um século ultrapassado, que
resiste ao avanço do tempo. O som consome
o transeunte: nada acompanhado de tom algum. Um cão levanta uma orelha,
deitado ao canto de uma quadra. Um mendigo dorme em meio aos passos da
madrugada. E ele, como num lapso de dor, percebe o rosto dela invadindo
sua mente: "eu não posso ser o que tu desejas". Nem ele poderia ser o
que desejava.
6)
Paro
em frente à caixinha de música. Num ritmo lento e descompassado, a
bailarina perde a linha e cai no vão das pequenas jóias. Vejo minha
filha em queda na apresentação da dança. Escorre-me uma lágrima. Volto
meus olhos para a bailarina e a música, aos poucos, vai se perdendo. Se a
dor fosse menor que a saudade, buscá-la nos confins da morte seria a
solução para tanta ira.
7)
Pensei
que estive completamente à deriva quando seus olhos cruzaram os meus.
Não bastasse um segundo de completude infinita, te aproximaste e a
trilha sonora da minha vida tomou corpo. Juntei baterista quando foste
te aproximando; o baixista se juntou quando levantaste teu braço para me
envolver; o guitarrista já entrou solando uma composição suave quando
percebeu teu sorriso. E o vocalista... Este tomou forma quando nossos
lábios finalmente se encontraram.
8)
Na
sala de aula vazia, aguardando trabalho que nunca chegariam, o
professor observa os rostos das pessoas que ali sentavam. "Profe, o
senhor quer um biscoito?", "Eu concordo com o que tu disseste, mas será
que Homero não queria só criar uma historinha para as crianças?", "Eu
gostei, professor, acho que Literatura parece uma matéria diferente",
"Conta outra história, por favor!", "A gente sabe que o senhor tá
cansado também...". Rostos calmos, pálidos, felizes, doentes, risonhos,
sonolentos. Caderno na mesa, lápis ralo, estojo não existente. Idades da
minha mãe, dos meus amigos, dos avós de alguém. É. Eu preciso continuar
trabalhando com eles.
9)
A
guarita estava vazia. O vento nordeste acompanhava timidamente os
passos do casal. Madrugada alta. Temperatura caindo devagar. E o
caminhar acelerado para chegar logo.
"Não vês ninguém?", ela perguntou.
"Não! Sobe!", ele respondeu.
Dando apoio à parceira, manteve-se estanque no chão. Ela equilibrou-se
em seu peito e chegou à base da pequena armação de madeira. Ele trepou
pela perna dianteira, depois das tentativas inúteis de alcançar a base apenas pulando. Sentaram-se.
"Pega minha mão?", ela perguntou.
"Não.", ele respondeu.
Os pensamentos dele perderam-se com as ondas, indo e vindo numa
inconstante fábrica de sonhos. Ela, boquiaberta pela reação do parceiro,
não sabia o que dizer.
"Tu sabias que eu partiria", ela disse.
"Mas não tô pronto pra partir sozinho", ele resmungou.
O que ele não sabia era a vontade dela de beijá-lo. Ela esgotou-se numa
expressão muda, quase calada: "eu te amo". Ele a observa, triste,
confirma seu sentimento.
Anos depois, deitados na cama, domingo de manhã, relembram o episódio:
"Só teve uma coisa que eu lembrei esse tempo todo lá daquela vez..."
"O quê?"
"O 'eu te amo'."
Abraçaram-se. Adormeceram, para acordar na eternidade.
10)
"Promete que fica comigo a vida inteira?"
"Não."
"Promete que teremos filhos?"
"Não."
"Promete que nosso amor vai durar pra sempre?"
"Não."
"Promete que tu vais ser sempre assim, maravilhoso?"
"Não."
"Promete que tu não vais me deixar de lado?"
"Não."
"Promete que tu pararás de me negar tudo?"
"Não."
Ela sai da sala, revoltada. Ele pensou que poderia ser mais romântico.
Deixou, porém, que seus pés no chão e suas atitudes motivassem o "sim"
de todas as perguntas.
11)
Alta
madrugada. Batida contínua dentro da boate. Ela dança como nunca dançou
antes. Fecha os olhos, sorri, sente a vibração invadindo seu corpo. Ela
está maníaca, lutando contra o próprio corpo para se manter ativa. São
3h43. Abre os olhos e vê se copo vazio. Continua dançando. Os passos
cada vez mais graves, descoordenados. A música cessa, troca o estilo.
Ela acorda de seu sonho e repousa os olhos
sobre o copo vazio. Fazia meia hora que havia buscado. Ela não o havia
bebido todo. "Maldito", pensou. Julgou ser o beberrão da mesa ao lado.
Bastou ela deixar o copo sobre o parapeito e ele teria bebido tudo.
"Bêbado de merda". As amigas já haviam partido e ela não tinha quem a
defendesse para qualquer efeito. Lembrou dele. Se ele estivesse lá, não
se preocuparia com nada. Nem em beber. "Maldito". Tê-lo perdido foi um
duro golpe: carinhos, presentes, promessas, desejos e felicidades.
Observa o copo e relembra as doses de uísque. "Maldita".
12)
Numa
carta escrita a duras penas, ela disse que queria ser a voz da
madrugada. Escutava, pelas ondas do rádio, a voz da bela locutora. Na
verdade, a voz era mais bela do que a portadora, segundo seu gosto.
Ouvi-la todas as noites era sua vontade, mas na carta ele quis assumir
um lugar que não era seu. "Um dia serei tu", pensou. Quando anunciaram
as propagandas, ele pegou o papel e começou a escrever
seu roteiro: "Boa noite, senhoras e senhoras, este é o Primeira Hora,
programa da sua madrugada!" - A questão é que imaginava a voz da
locutora, a presença da locutora, trejeitos que não eram seus, olhares
para os convidados que não eram seus, perguntas que nunca houvera
pensado e que não se materializavam nos pensamentos. Quem era essa
pessoa da carta afinal?
13)
Eu
acho que ele gosta de mim. Estamos aqui, fim de tarde, praça, corrida,
amigos, gente acampada. Acho que ele gosta de mim. Eu o olho e o vejo
observando adiante. Ele vê o futuro? Não sei. Mas acho que ele gosta de
mim. Eu saio de perto, corro na frente, sinto cheiros esquisitos e
interessantes, paro e ele está vindo, vagarosamente. Ele vem comigo.
Acho que ele gosta de mim sim. "Vem cá", ele me diz.
Óbvio: corro pra ele. Mostro minha felicidade. "Espera. Toma cuidado" é
o que ele me diz antes de atravessar a rua. Mas isso aqui parece tão
interessante, deixa eu ver... Hmmm... Parece de menino, é muito forte
e... "Vem!" - Calma, tô indo. Ele me quer semrpe por perto. Acho que ele
gosta de mim. Ele insiste em levar aquele negócio nas mãos, mas eu
quero ajudá-lo, eu levo pra ti. "Deixa isso comigo", ele diz. Ele sabe
que eu canso de carregar, pois é pesado pra essa minha musculatura. Vejo
um ocnhecido do outro lado da rua, mas me preocupo com ele. É com quem
eu quero estar sempre. E acho que ele gosta de mim.
14)
Hoje
estou lembrando de ti. Lembra aquele dia em que pegamos a bicicleta e
pedalamos até o sol baixar? Lembra do momento em que tu nos convidaste
para ver um filme e, sacaneando, disseste que só havia pornografia? Ou
naquele churrasco em que rias adoidadamente de piadas que nem fundamento
tinham? Lembro-me de ti antes da bebida: risadas comuns, diversões à
toa, vontades de brincadeiras e conversas
entusiasmadas. Remorso-me do pós-bebida: risada doentia, olhar perdido,
gole atrás de gole. Onde tu ficaste, afinal? Em que lembrança
escondeste teu passado? Em que estado encontra-se tua agonia? E tua
felicidade, onde foi? Vejo esta foto e não mais te vejo. És apenas um
espectro de uma rica lembrança, passado de um silêncio atormentado que
se transformou teu dia.
15)
Depois
da longa batalha, Siegfried retorna a Worms. Liudeger e Liudegast não
poderiam mais ouvir seu nome. Ele, em todo o caso, queria apenas que
Kriemhild falasse seu nome. Sonhava em escutar sua voz noite e dia,
desde que iniciara o regresso. Günther, de olhar desconfiado, não fazia
ideia de que o maior objetivo de Siegfried era amar sua irmã até o fim
dos tempos - achava-o ganancioso, intimidador,
até perverso. Hagen, observando a cena, apenas incentivava Günther.
"Ele não é de confiança", dizia. "Veja tudo o que fez sozinho contra os
Saxões". "Ele é forte. Muito forte", pensou alto. O cavaleiro do tesouro
dos nibelungos, no entanto, trazia em seu coração a arma mais letal,
que faria com que seus adversários se consumissem no próprio veneno: um
amor casto e puro, doado apenas àquela com quem quis casar desde o
início dos tempos.
16)
Temporal.
Tufão, Terremoto. Eles estavam no pico do mundo, vendo tudo acontecer.
Sabiam que tudo terminaria ali. "Antes que o mundo acabe", ele disse,
"preciso que tu saibas de uma coisa". "Eu sei o que vais falar", ela
sorriu. "Não, não te direi que meu amor por ti sempre existiu. Só que
tudo que sempre fizemos parece ser banal agora. Olha o que acontece lá" -
ele aponta para o horizonte: o céu também
estava se destruindo. Não eram apenas o que semrpe fora visível e
passível de medo ao homem. O vento soprava com força nos ouvidos de
ambos. Mal ouviam-se as vozes. Um feixe negro tomava conta das nuvens,
das chuvas, do mundo em si. "Aproveitamos sempre. Nada foi banal", ela
disse. Ele sorriu. Completou: "E meu amor por ti sempre existirá".
Deram-se as mãos e pularam, para nunca mais ouvirem falar de si. Nem de
ninguém.
17)
"Conta-me uma história?", a pequena pediu.
"Deita", ele responde. "Tenho uma história pra ti."
A menina se aconchega na cama. Ajeita o travesseiro, tira os chinelos
carcomidos. Ele pega mais um lençol. Dois. Apenas o que há. Coça a
cabeça. Um cobertor não faria mal. Não há.
Ela se cobre com o primeiro lençol. Ele coloca o segundo. A menina, em estado contagioso de ânimo, põe-se de barriga para cima, as mãos puxando as cobertas. Dedinhos à vista. Ele sorri. Sorri um sorriso cansado, mas orgulhoso. Ela é um brinco.
"Conta agora?", ela questionou.
Ele olhou para os lados. Silêncio. De repente, uma tosse, vinda de seu
quarto. Silêncio novamente. Ele resolve apagar as luzes do quarto da
menina, acende uma vela. "É mais bonito dormir assim", ele diz.
"E a minha história?", ela pergunta.
"Vou te contar agora..."
E os olhos deles se perderam. Viajaram quilômetros e quilômetros. A
antiga cidade. Os vizinhos falastrões. O trabalho duro e o salário
parco. A invenção do mastigador. A ida pra cidade grande. O desconsolo. A
dor. Ela.
"A minha história!", ela implorou.
"A tua história, meu amor... Começa depois da meia-noite."
Feliz Ano Novo aos pacientes leitores dos micro-contos e a todos que querem uma nova história em 2012! :D
Nooooooooooooooossa, que chuva de criatividade!
ResponderExcluirO que as férias não fazem à mente de um escritor, hein?! Adorei os contos que li (admito que não consegui todos :P)
Bjoness.